Indústria cerâmica e sucroenergética firmam acordo para substituir gás natural por biometano. Meta é suprir 50% da demanda energética das empresas do setor até 2030
O Brasil é um dos principais polos industriais de revestimentos cerâmicos no mundo, com a terceira posição em produção e a segunda em consumo, além de ser o sétimo do ranking das exportações. Apesar de a matriz energética desse nicho industrial ser baseada no gás natural, com 50% a menos de emissão de dióxido de carbono e gases de efeito estufa (GEE), a conta ainda é onerosa para o meio ambiente.
Para garantir energia de forma sustentável, a partir do uso de combustíveis de baixo carbono, foi assinado nesta sexta-feira (3), em Santa Gertrudes (SP), acordo de cooperação inédito entre os setores cerâmico e sucroenergético para colocar em prática um plano estratégico de transição, com uso do biometano, na indústria de cerâmica para revestimentos.
O projeto segue para fase de implementação, com previsão de funcionamento operacional no início de 2025. Como resultado, serão construídas plantas de biometano a partir da vinhaça, resíduo do setor sucroalcooleiro, em Santa Catarina e em São Paulo como pilotos, com a participação de dez empresas de cada estado. A princípio, o uso deverá chegar à proporção de 5% do consumo energético das indústrias participantes. O piloto será a base da tomada de decisão para a transição energética do setor em âmbito nacional. A meta é suprir 50% da demanda energética das empresas do setor até 2030.
Também será realizado estudo de potenciais fontes de geração de biogás nos estados de São Paulo e Santa Catarina, principais polos de produção no país, que atendam à demanda por uma fonte de biocombustível confiável para o setor da cerâmica branca. O plano estratégico foi elaborado a partir de convênio firmado entre Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (Aspacer), Sindicato das Indústrias de Cerâmica – Criciúma (Sindiceram) e o Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA).
O SENAI vai apoiar com tecnologias, inovação e serviços essenciais para gerar resultados que possam ser replicados e sustentáveis para todo a indústria cerâmica que, assim como outros setores industriais, será impactada de forma regulatória e mercadológica pela agenda ambiental internacional. Por meio da rede de Institutos SENAI de Inovação, será realizada análise da situação atual do setor, mapeamento dos canais logísticos para distribuição do biometano, plano de redução de emissões do setor e consultorias de eficiência energética, além de monitoramento do projeto piloto.
“O SENAI atua com protagonismo para acelerar a implementação de estratégias, programas e tecnologias que contribuem para que o Brasil avance no desenvolvimento sustentável, tanto por meio da expansão do uso de fontes renováveis, como também pela otimização dos processos produtivos”, ressalta o diretor de Inovação e Tecnologia do SENAI Nacional, Jefferson Gomes.
“O setor de cerâmicas de revestimento é hoje o segundo maior consumidor de gás natural e por isso sua transição para uma matriz energética limpa garantirá maior competitividade, além de ampliar o acesso a mercados internacionais e descarbonizar sua produção", destaca Daniel Motta, gerente de Tecnologia e Inovação do SENAI de São Paulo.
Para a indústria cerâmica, o acordo representa um novo e importante passo na área energética, com ganhos econômicos e ambientais. “O projeto é pioneiro no país, por meio da associação de dois APLs (Arranjo Produtivo Local) e possibilitará a produção e uso em escala do biometano, o chamado Pré-Sal Caipira. Será um enorme ganho na área sustentável, com diminuição da pegada de carbono, além da previsibilidade de preços e maior segurança energética”, celebra Benjamin Ferreira Neto, presidente do Conselho de Administração da Anfacer.
Setor responsável por 6% do PIB da indústria de materiais de construção
Em 2020, as vendas no mercado interno atingiram 826 milhões de metros quadrados e 94 milhões foram destinados ao mercado externo. No mesmo período, o Brasil exportou para mais de 110 países, totalizando 94 milhões de metros quadrados, o que equivale a uma receita de US$ 330 milhões. As exportações brasileiras têm como principais destinos: América do Sul, América Central, América do Norte e Caribe.
De acordo com a Anfacer, o segmento representa 6% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de materiais de construção e gera, nas suas 71 unidades fabris, 28 mil empregos diretos e 200 mil indiretos. Para a associação, a escolha do setor por combustível de baixo carbono, iniciado por biometano, é um passo rumo ao futuro.
“Com uma matriz energética de menor impacto ambiental o setor cerâmico nacional terá umas das plantas produtivas mais sustentáveis do mundo. Um exemplo significativo para o Brasil e para o mundo em termos de economia circular”, enfatiza a entidade.
No rol de oportunidades, existe a tendência de transição energética aos combustíveis baseada em matriz gasosa de fontes renováveis, com o desenvolvimento de tecnologias que utilizam biocombustíveis, destacando o potencial do biogás brasileiro pelo aproveitamento de substratos orgânicos.
O desafio é, a partir do uso do biometano, tornar a cerâmica de revestimento nacional referência em termos de competitividade global, além de contribuir para o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção-Quadro da ONU sobre a Mudança do Clima e no Pacto Climático de Glasgow.
Brasil: posição de vanguarda em relação aos demais países
A indústria brasileira é considerada uma das mais competitivas do mundo em relação à sustentabilidade e emissões de GEE.
O Brasil já desponta no cenário mundial, com elevada participação de fontes renováveis de energia na matriz elétrica (cerca de 80%) e energética (47%), e segue em uma trajetória sustentável, ampliando cada vez mais o uso de fontes limpas como eólica, solar e bioenergia, além de apostar em novas tecnologias, como o hidrogênio verde. No entanto, o país ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir padrões socioeconômicos comparáveis aos de países desenvolvidos, sobretudo, em relação ao consumo de energia per capita, que deverá aumentar até 2030.
Para que avance cada vez mais em relação às metas de redução de emissões de GEE, o setor de energia precisa expandir e diversificar as fontes renováveis – e, nesse caminho o grande potencial está na eólica offshore -, e ampliar o uso de biocombustíveis, estimular o desenvolvimento de novas tecnologias de baixo carbono (como hidrogênio verde e CCS – captura e armazenamento de carbono) e promover ações de eficiência energética.
Por: Camila Vidal
Foto: Comunicação Anfacer
Fonte: Agência de Notícias da Indústria
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