A indústria 4.0 foi tema do último evento de 2020 do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação. Promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ILP-Alesp) e pela FAPESP, o evento foi realizado virtualmente no dia 07 de dezembro e transmitido ao vivo pelo canal da Alesp no YouTube.
Para tratar da nova revolução industrial e de seus avanços, o evento reuniu quatro profissionais com experiência na área: o engenheiro eletrônico Marcelo Pinto, da PPI Multitask, que falou de internet das coisas e automação do chão de fábrica; o engenheiro agrônomo Guilherme Raucci, da Agrosmart, que explorou o subtema da inteligência artificial na agroindústria; o médico Edson Amaro Junior, do Hospital Albert Einstein, que centrou sua apresentação no uso de ferramentas de big data e analytics em saúde; e o matemático Francisco Louzada Neto, do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP –, que discorreu sobre a formação de profissionais para a indústria 4.0.
“Existe hoje uma demanda dos consumidores por produtos cada vez mais personalizados e as novas tecnologias viabilizam a transformação da indústria para atender a essa demanda”, disse Marcelo Pinto.
A empresa da qual é diretor e sócio-fundador, a PPI Multitask, cresceu com foco no desenvolvimento de softwares para gerenciamento da atividade produtiva e apoio da FAPESP, por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
Em setembro de 2019, a empresa teve 51% de suas ações adquiridas pelo grupo WEG, multinacional com atividade principal na fabricação de equipamentos eletroeletrônicos e ramificações em vários segmentos produtivos. Com a aquisição, a WEG expandiu seu portfólio, passando a oferecer também soluções digitais voltadas para a indústria 4.0.
Em sua apresentação, Pinto esmiuçou o conceito de MES (Manufacturing Execution Systems), termo usado para designar os sistemas inteligentes de gerenciamento das atividades produtivas, e de internet das coisas, que conecta objetos físicos a grandes redes computacionais.
A combinação desses recursos, que caracterizam a chamada “quarta revolução industrial”, ou indústria 4.0, pressupõe o uso maciço de sensores, para obter informações precisas em tempo real; de dispositivos de inteligência artificial, para prevenir anomalias, corrigir rapidamente os erros e garantir os índices de produtividade; e de big data, para sintetizar a grande massa de dados provenientes do planejamento, da cadeia de suprimentos e logística, da operação das máquinas etc. “O objetivo é tornar essa integração do chão de fábrica acessível à pequena e média indústrias brasileiras”, afirmou Pinto.
A extensão do conceito de 4.0 para a agroindústria foi apresentada por Guilherme Raucci, diretor de negócios da Agrosmart, empresa que também recebeu apoio do Programa PIPE da FAPESP e foi reconhecida como uma das startups mais inovadoras pelo Fórum Econômico Mundial.
“Quem não é do setor talvez tenha a ideia de que o ‘agro’ está um pouco atrasado na incorporação de tecnologia, mas eu quero mostrar exatamente o contrário”, disse Raucci. E citou, como exemplo, uma enquete realizada neste ano que mostra que mais de 85% dos produtores rurais entrevistados utilizam whatsapp, seja para obter informação, seja para fazer leitura de equipamentos e sensores, seja para fazer compras on-line.
No rol das tecnologias incorporadas à agroindústria, Raucci enfatizou aquelas utilizadas “porteira adentro”, voltadas para a gestão da propriedade, o controle de maquinário, o controle de pragas e doenças, o melhoramento genético, o monitoramento por sensores e o processamento por meio de softwares que juntam toda essa informação e entregam algum tipo de recomendação. Mencionou também aquelas empregadas da “porteira para fora”, que envolvem o monitoramento do clima, a modernização do acesso ao crédito, o fornecimento de assistência técnica para os produtores, a cadeia de distribuição, as plataformas de compra e venda etc.
Máquinas agrícolas inteligentes, armadilhas automáticas para identificação de pragas, sensores, drones, imagens de satélite, modelos preditivos para identificação de riscos de doenças como a ferrugem do café, ferramentas digitais de irrigação que determinam o melhor momento e a quantidade certa de água a ser utilizada compõem o rol dos recursos tecnológicos mencionados por Raucci. “Alguns levantamentos apontam que o Brasil tem mais de mil startups trabalhando no agronegócio, em vários pontos da cadeia produtiva”, disse.
Com sua experiência como superintendente de ciência de dados e analytics do Hospital Albert Einstein, Edson Amaro Junior apresentou oito exemplos de como o conceito 4.0 está sendo aplicado, já há algum tempo, nessa grande instituição de atendimento à saúde.
Dos oito exemplos, cinco dizem respeito mais diretamente às atividades desenvolvidas no âmbito intra-hospitalar. As tecnologias compreendem desde a otimização dos kits cirúrgicos, de modo que não faltem instrumentos nos momentos críticos, mas também para que não ocorram desperdícios; até o uso inteligente de bancos de dados, possibilitando o reconhecimento automático e a comparação de imagens médicas geradas em exames; passando pela adoção de algoritmo de previsão da taxa de reinternação hospitalar, permitindo calibrar melhor o tempo de permanência de cada paciente para não estender desnecessariamente a internação. Inclui, ainda, tecnologias que permitem a predição da taxa de mortalidade em unidades de terapia intensiva e a otimização da escala de médicos, enfermeiros e outros profissionais da linha de frente do atendimento.
Os outros três exemplos se dão na interface da instituição com o público e englobam tanto atividades de atendimento quanto programas de responsabilidade social. Incluem o uso de modelos preditivos de ocorrência de síndrome metabólica; o manejo de saúde populacional; e a predição de frequência de consultas em unidades básicas de saúde (UBS).
“Alguns desses exemplos envolvem análises de dados muito complexas. E as ferramentas computacionais são a base para tudo isso. No caso das imagens médicas, por exemplo, a ferramenta permite comparar as imagens do paciente que está sendo tratado com centenas de milhares de imagens, e daí extrair orientações muito mais precisas para diagnóstico e tratamento”, explicou Amaro.
Ele mencionou ainda a utilização de modelos que permitem avaliar síndromes metabólicas. “Essas síndromes antecedem situações graves, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. O modelo permite prever qual a chance de determinado indivíduo desenvolver a síndrome metabólica, orientando o médico quanto à adoção de medidas preventivas”, disse.
O último especialista a se apresentar no evento virtual foi Francisco Louzada Neto, professor titular do Instituto de Ciências Matemáticas e Computação da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do CeMEAI. Ele falou da formação de pessoal qualificado para atuar na indústria 4.0.
“A implantação da indústria 4.0 vem acompanhada da geração de imensas e complexas massas de dados e da necessidade de maior capacidade analítica. Nesse contexto, é crucial a formação de um novo tipo de profissional”, afirmou Louzada.
“Temos a necessidade de analistas de dados, estatísticos, matemáticos, cientistas da computação, com formação diversificada, que possam trabalhar em ambientes multidisciplinares”, acrescentou.
Com esse foco, o matemático apresentou os vários tipos de ações promovidas pelo CeMEAI no sentido de atender a tal demanda, conforme as necessidades específicas da empresa parceira. O leque inclui cursos de longa duração, como mestrado profissional e MBA, cursos de curta duração, workshops e outras atividades. “Nosso mestrado profissional atende a mais de 50 empresas. E nosso MBA atende a cerca de 160 profissionais de mais de 70 empresas públicas e privadas”, detalhou.
Além dos quatro apresentadores, o evento teve a participação de Silvério Crestana, consultor da Frente Parlamentar de Empreendedorismo (Frepem), que compareceu representando o deputado estadual Itamar Borges, e de Renato Corona, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Crestana afirmou que a indústria 4.0 é uma das prioridades da Frepem. E Corona ressaltou que é preciso desmistificar a ideia de que 4.0 não é assunto para as pequenas e médias empresas.
O evento foi introduzido por Vinicius Schurgelies, diretor-presidente do ILP, e contou com a moderação do professor Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP.
O evento pode ser acessado na íntegra por meio da TV Alesp, no endereço https://www.youtube.com/watch?v=7K54xbSUWXE.
Por: José Tadeu Arantes | Pesquisa para Inovação
Fonte: FAPESP
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