A onda que atingiu e transformou o setor bancário, o varejo, transporte, entretenimento e turismo, também chegou ao setor de energia. E não na forma de um simples aplicativo para gerenciar suas faturas ou como um simples canal de atendimento digital, mas de maneira estrutural.
O uso das mais diversas inovações tecnológicas no cotidiano do consumo já se tornou realidade há algum tempo. Seja através de aplicativos que facilitam o dia a dia ou de modelos de negócio inovadores que propõem novas abordagens para produtos ou serviços já conhecidos, a experiência do cliente se tornou prioridade para as grandes companhias que querem continuar relevantes.
No entanto, essa não é exatamente uma verdade irrefutável. A maneira de consumir serviços básicos – como os de distribuição de água, energia e gás – não sofreu grandes transformações nos últimos 30 anos. E não seria justo dizer que nada mudou, mas a implementação de inovações e tecnologia nesses setores quase sempre esteve focada em otimizações, mitigações de erros e ganhos de eficiência internos.
Para o consumidor final, restaram como inovações o envio de faturas digitais e o lançamento de “áreas do cliente” nos sites das companhias distribuidoras. O problema estrutural é que quando um serviço é prestado a um cliente final massificado e que não tem opção de escolha, é tentador tratar essas pessoas como consumidores genéricos, e ser indiferente às suas necessidades e especificidades. Nos últimos anos, no entanto, tem acontecido uma mudança estrutural no setor de energia, que foi viabilizada pela popularização de um novo modelo no Brasil: a geração distribuída.
Quando pensamos em geração de energia, logo vem à mente a imagem de uma grande usina hidrelétrica, com milhões de metros quadrados construídos, em um local afastado das grandes cidades e cheia de complexidades de implantação e operação. O que a geração distribuída de energia agrega como grande inovação é justamente a possibilidade de implantar equipamentos de geração em uma escala muito menor, com menos complexidade de operação e manutenção e muito mais próximos dos grandes centros consumidores.
Além de viabilizar todo o sistema de autoprodução de energia, que se popularizou com as já habituais placas de energia solar, esse modelo também fomentou todo um novo setor econômico que, mesmo em um período tão incerto como o que estamos vivendo, cresce consistentemente mês a mês. E o mais importante: trouxe à tona novas possibilidades, permitindo que um serviço tradicional possa, enfim, ser revolucionado.
Atualmente cada consumidor tem o poder de acessar uma usina de geração de energia (seja de biogás, energia solar ou mesmo de pequenas centrais hidrelétricas), através de investimento próprio ou até se juntando a outros consumidores e participando de projetos compartilhados. Essas “plantas de geração de energia” podem ou não estar no mesmo local do consumo e, ao gerar energia, criam créditos que irão abater os valores devidos por cada cliente diretamente com a sua concessionária. Aderindo ao sistema, esse cliente passa a ser mais independente, podendo ter maior controle sobre seus gastos e ainda gerar economia de forma sustentável.
Apesar de parecer, tudo isso não precisa ser complexo. Uma série de novas empresas e startups se empenham para fazer com que todo esse processo se torne bastante simples. Elas já captaram milhões de reais com investidores nacionais e internacionais e prometem experiências inovadoras para o cliente final, seja para instalar e financiar o seu próprio equipamento de geração de energia ou viabilizar a entrada de sua empresa ou residência em uma planta compartilhada de geração. A constante aqui é a experiência: inovadora, intuitiva, facilitada e personalizada.
E esse é só o começo. Em países como Japão, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Coreia do Sul, França e Holanda, a experiência inovadora no consumo de energia já é uma realidade: desde a escolha de qual empresa irá gerenciar as suas faturas, de qual o melhor plano de pagamento para o seu perfil ao tipo de energia que se deseja consumir.
Por aqui, discussões e projetos de lei sobre a permissão da portabilidade entre concessionárias de energia e liberação de modelos flexíveis de compra de energia tramitam no sistema legislativo, dando esperança de que novos serviços se tornem possíveis rapidamente.
O futuro da energia no Brasil finalmente está batendo à porta e ele é inteiramente digital, mais sustentável e menos centralizado. E, o mais importante, finalmente coloca o cliente em primeiro lugar. Afinal, serviços básicos não precisam ser simplesmente mais boletos todos os meses. São serviços em primeiro lugar e, como tais, têm o poder de gerar experiências incríveis. Prepare-se para renovar sua energia pois, assim como seu banco, canais de comunicação, filme de sábado à noite ou meio de transporte, ela nunca mais será a mesma.
Por: Victor Soares - administrador de empresas pela FGV, cofundador e CEO da Metha Energia. Sua missão é oferecer uma opção para que os consumidores de energia obtenham uma experiência digital, fácil e econômica com o serviço de energia elétrica. Já levou essa nova experiência diretamente para mais de 20 mil residências com o acesso a uma energia mais barata e sustentável.
Fonte e imagens: Startupi
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